Panela de ferro, uma paixão nacional

20 de outubro de 2023
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Ainda que o uso da panela de ferro seja mundial, o Brasil ganha notoriedade no utensílio. Toda a casa brasileira que se preze já teve, tem ou terá uma panela de ferro para chamar de sua. Produto que atravessa gerações, tanto que é muito comum “herdar” as panelas, que passam de pais para filhos, a panela de ferro traz uma característica singular no país, que tem a ver com a miscigenação de culturas gastronômicas de origem indígena, portuguesa e africana, para ficar nas iniciais.

Essa tradição se justifica pelo impacto que a siderurgia teve no Brasil a partir da revolução industrial, com fundições de ferro surgindo em regiões como a Serra Gaúcha e o Sudeste e, naturalmente criando um mercado, mas principalmente porque o brasileiro encontrou na panela de ferro uma identidade para desenvolver as suas receitas.

Com tantos ingredientes à disposição na nossa gastronomia e uma variedade cultural vista em poucos lugares do mundo, o Brasil tem uma culinária fantástica, rica em frutas, verduras, legumes, carnes, peixes, aves, que vem sendo descoberta mundialmente. E naturalmente que toda essa diversidade tem uma raiz.

Os pratos desse mix cultural que é o Brasil ganharam na panela de ferro um ambiente e tanto para o seu cozimento. Tanto que hoje é mais comum fazer a tradicional moqueca, símbolo dessa união de indígenas, africanos e portugueses, por exemplo, nas caçarolas de ferro como da Vó Nena do que nas panelas de barro. Isso se explica por vários motivos, ainda que o utensílio em barro conserve um certo charme. 

A praticidade da panela de ferro, que mantém o calor de forma superior ao barro, sem dúvida é um deles. Isso se explica pelas características da liga de ferro, que resiste a altas temperaturas e distribui o calor de forma uniforme. Assim como a moqueca, também o pirão foi conquistado pela panela de ferro, bem como o tacacá, o bobó, africano influenciado pelos indígenas, e muitos outros pratos que levam mandioca, esse ingrediente tão brazuca também chamado de macaxeira ou de aipim, conforme a região, mas que todas as culturas se utilizam. 

Outro destaque da culinária indígena – ou será africana? – são as farofas. Não há farofinha melhor do que a feita na panela de ferro, ainda mais quando ela começa a dar aquela pegada no fundo da panela e nos brinda com aquele queimadinho tão necessário. Tampouco peixe, que se dá superbem no utensílio, seja para um grelhado rápido ou para um cozimento lento, onde o molho vai envolvendo a carne. 

Se pensarmos que as panelas de ferro chegaram ao Brasil por meio dos colonizadores portugueses, com seus ensopados e assados, foi em alguns pratos originários dos escravos africanos que as caçarolas dominaram as cozinhas. Sempre se há de pensar na feijoada, que fica impagável com o cozimento lento e uniforme que o ferro proporciona. Sem contar que nada é mais charmoso do que colocar à mesa uma caçarola com uma feijoada fervilhante. 

Outro clássico feito na panela de ferro é o arroz carreteiro, esse prato tão gaúcho, tão do Sul, feito originalmente de arroz branco e charque, mas que também tem tantas variações quanto são os cozinheiros do Brasil. 

Aliás, muitos dos nossos pratos regionais e que acabam por ganhar o país, sendo tão comuns no nosso dia a dia, têm origem controversa. Indígena, africana, portuguesa, nordestina, gaúcha? Aqui na SerraCasa a gente arrisca a dizer que é brasileira! 

Como você pode ver, são muitas as receitas que se pode fazer na panela de ferro, de muitas culturas, origens e fusões, tão variadas e extensas como o nosso país e como as panelas de ferro Vó Nena, que estão aí prontas para encher a sua casa e a sua cozinha de muito sabor, resgatando o prazer de cozinhar as suas melhores receitas.

Texto: Daniela Goulart